quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

NOSSOS POETAS  -O Liberal-29/6-93
Maria
CARMINHA GOUTHIER
           
            Maria do Carmo Sousa Coelho, nasceu em Dores do Indaiá em 16 de abril de 1903. Era filha de Paulino de Paula Sousa e Afra Gontijo de Sousa. Tinha quatro irmãos: Adélia, Ruth, Alzira e o caçula, Odilon.
            A casa onde nasceu pertence hoje à família do senhor Homero Ribeiro, situada na Praça de São Sebastião, hoje, Praça Alexandre Lacerda Filho, bem ao lado da primeira igreja de Dores do Indaiá, pequena, singela, encantadora... Suas raras  fotos são o símbolo da fé do  povo dorense, transformado-se em símbolo dos primóridos do município que ali, à sua sombra,   deu os primeiros passos  na história que iria construir ao longo dos anos.
             Seu pai foi o primeiro jornalista da cidade e o proprietário da primeira gráfica da região. Em homenagem a ele, Dores do Indaiá nomeou uma rua do Bairro São Sebastião com seu nome: Rua Paulino de Sousa.
            A jovem poetisa era conhecida pelo carinhoso nome de Carminha e foi assim que passou a ser conhecida por seus trabalhos literários.
            Em 1921, casou-se com o Dr. Hudson Gouthier de Oliveira Gondim. Residiu em Bom Despacho, Mariana e Belo Horizonte, acompanhando o marido que   exercia o cargo de Juiz de Direito.
            Seus poemas, ricos em espiritualidade, sem dúvida, expressam   a maior voz feminina da poesia mística do Brasil.
            Sobre ela, temos a palavra de grandes escritores:
 
            “Esse livro( A Luz e o Trigo) foge ao comum de nossa produção poética. Ao primor da qualidade literária, junta uma fome, uma necessidade de ABSOLUTO, raríssima entre nós...” (Carlos Drummond de Andrade)
 
            “Carminha Gouthier sempre viveu a poesia com intensidade e, sobretudo, com humildade. Daí, traduzir os seus sentimentos com pureza e força , numa visão mística que representa, antes de tudo, comunhão generosa com as coisas e as criaturas.” (Alphonsus de Guimaraens  Filho)
 
            “Carminha Gouthier se desvia do efêmero, captando, em versos de grande ressonância, a parte essencial da nossa vida de espírito”.(Murilo Mendes)
 
            “Sem estar presa a escolas literárias ou a modas poéticas de vanguarda, Carminha Gouthier, que soube aproveitar do movimento modernista o que nele havia de realmente renovador e construtor, dá-nos uma poesia de elevado tom espiritual, que flui com clareza e harmonia, como  uma fonte de água pura e límpida.” (Oscar Mendes).
 
            Aqui , seu poema A DORES DO INDAIÁ, foi amplamente conhecido nas escolas primárias – não havia reunião social em  que o poema não fosse apresentado:
Dores do Indaiá era desse tamaninho. E gostava de dormir mansamente resignada na sua vida simples de todo o dia”
 
                A Serra da Saudade foi cantada por Carminha  em tom de encantamento, jamais superado em beleza e poesia: O horizonte de minha terra é uma pincelada Azul.”
 
                Profundamente religiosa, tinha afinidade espiritual com São Francisco de Assis - o santo da Natureza, tema recorrente em sua poesia: flores, singelezas, humildade, desapego aos bens materiais, Carminha Gouthier  pode ser lembrada como uma  Santa- Poetisa ou uma Poetisa- Santa...
 
            Seu nome foi homenageado pela Associação dos Amigos de Dores do Indaiá – ADI, em 7 de abril de 2001 e seu Centenário – 2003 - foi lembrado com inúmeras homenagens  na sua terra natal.
            Dentre as homenagens, organizadas pela Prefeitura  de Dores do Indaiá,  foi lançado o livro MYSTICA POESIA – poemas reunidos, organizado por outro grande intelectual dorense, primo de Carminha – JOSÉ HIPÓLITO DE MOURA FARIA. É um trabalho primoroso, onde o autor comenta a poesia de Carminha Gouthier, em linguagem profunda, digna da homenageada.
            Por sua modéstia, inerente ao seu modo de viver, teve apenas dois livros publicados, por insistência de amigos.: A LUZ E O TRIGO, publicado pela Editora Itatiaia, em 1961 e ESPANTANLHO DE DEUS, pela Editora Lar Católico, em 1967.
            Carminha Gouthier faleceu em 5 de junho de 1983, em Belo Horizonte,  não deixando filhos.
 
            Escolhi dois poemas para ilustrar a página dedicada à maior poetisa  mística do Brasil, orgulho de Dores do Indaiá.
O primeiro é poesia intimista, dedicado a Francisco Campos, “o príncipe que despertou a cidadezinha pra o progresso”
            O segundo, é  um dos meus preferidos e faz parte do livro ESPANTALHO DE DEUS.
 
                       
DORES DO INDAIÁ
 
 
Dores do Indaiá era deste tamaninho
E gostava de dormir resignada
Na sua vida simples de todo dia.
 
Dores do Indaiá tinha preguiça de crescer
De abrir os braços
Para frutificar.
 
E ficava bem quieta sonhando
Entre as serras azuis que acordam saudades
E os córregos humildes que lavam o chão.
 
Dores do Indaiá!
Quede a cidadezinha que tinha preguiça de caminhar?
Quede as casas de barro onde as janelas tortas
Espiavam a gente?
Quede o carro de bois que gemia de dor
No silêncio das ruas?
 
Dores do Indaiá!
Mil vozes cantando ressurreição.
Andaimes nos corpos das casas grandes e novas.
Andaimes na tua alma rejuvenescida
Ao calor das vitórias.
Na Tua alma que dá sombra e finca raízes.
Transpondo o limite das serras azuis
E dos córregos humildes .
 
Dores do Indaiá!
 
Era uma vez uma linda princesa,
 há muito adormecida...
Era uma vez um belo príncipe
Perdidamente enamorado
Que foi sozinho despertá-la.
E deu-lhe vestidos de ouro puro
deu-lhe joias maravilhosas
deu-lhe coroa de estrelas
deu-lhe castelos encantados.
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(Publicado em O Liberal, escrito quando de uma visita da autora à cidade natal)
 
NOTA: O poema acima foi declamado pelo poeta dorense, ANTÔNIO CAETANO DA SILVA GUIMARÃES JÚNIOR -  Tonico Caetano - em homenagem a FRANCISCO CAMPOS, em uma das visitas  do maior benfeitor da cidade a Dores do Indaiá.
Afinal, ficou tudo em família: a poetisa, o poeta e o ilustre Jurista são primos, todos descendentes de Juca de Sousa.
E eu tenho o maior orgulho de que meus filhos sejam da mesma raiz familiar da grande poetisa, pelo lado paterno. Eu, a mãe, só sirvo de admiradora da grande poetisa, cujos versos repassei  a todos os alunos nas salas de aula por onde andei...
 
 
HUMILDADE
 
Não vos peço mais
Senhor
A felicidade grande, daquela que está escrita
Nos livros.
 
Quero somente alguns retalhos dela.
Saberei uni-los.
Farei remendos  prodigiosos
Porque o tempo foi meu mestre de costura.
 
A minha felicidade será assim
Como um vestido de menina pobre.
 
E eu vos darei muitas graças
Senhor
muitas graças.
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Fico feliz em passar a vocês a poesia de Carminha Gouthier,  que era POETA MAIOR e não sabia... Ou não queria acreditar que o era!
 
Nota: Aqui, ainda há parentes de Carminha Gouthier:além dos citados, temos ainda a Márcia Gouthier, grande incentivadora da ADI e o seu atual Presidente,José Antônio de Faria Guimarães ambos residentes em Belo Horizonte.
Fonte: Mystica Poesia,- José Hipólito de Moura Faria, Coluna - Antologia da Poesia Dorense, de Rubens Fiúza, em O Liberal Dores do Indaiá,  abril de 99 e notas de meu arquivo particular.
 
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                   Dores do Indaiá, 19 de fevereiro de 2014.
 
 

2 comentários:

  1. Adorei. Muito rica a história da cidade. Rica e encantadora. Uma pena que seja conhecida por tão poucos.

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  2. Oi, amiga Branca! Que bom saber das histórias desta terra tão rica! Um beijo!

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